No estado paraibano, o número de pessoas em situação de rua aumentou 393% em sete anos. Em João Pessoa, somente no último ano, o crescimento foi superior a 70%, segundo dados do Núcleo de Dados da Rede Paraíba.
A fome, antes associada aos severinos do Sertão, agora ocupa as esquinas urbanas. Apesar das mudanças nos rostos, a história continua a se repetir. Os versos de João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina, escritos há mais de 70 anos, retratam a dura realidade de um Brasil esquecido, onde a pobreza no interior do Nordeste levava a uma morte lenta e silenciosa. Hoje, essa miséria se reinventa nas ruas das grandes cidades. O desemprego e a falta de moradia ressuscitam o retrato de uma população que, assim como os severinos de João Cabral, continuam a morrer aos poucos a cada dia.
Muitos enfrentam a falta de um trabalho que os dignifique, falta de dinheiro, falta de alimentação. A falta, principalmente, de um lar.
No Centro POP (Centro de Referência para População de Rua), diariamente 150 pessoas são atendidas, incluindo os atendimentos extras que são os encaminhamentos para retirada de documento, para CAPS, para outras áreas da saúde, encaminhamento para o acolhimento e são oferecidos 50 cafés da manhã e 120 almoços todos os dias de segunda a sexta. E ainda à tarde é servido um lanche. Um espaço gerido pela gestão municipal com objetivo de prover comida e um lugar para tomar banho, mas não funciona como abrigo.

O cenário é repetido principalmente nas capitais. Apesar do aumento expressivo de 70% de pessoas em situação de rua em João Pessoa, entre 2022 e 2023, a capital da Paraíba ainda é a que apresenta os menores números e índices do nordeste. Os percentuais mais elevados estão com nossos vizinhos Sergipe, Bahia e Ceará.
“Somos invisíveis. A população de rua sofre e não é atendida! As políticas públicas não nos atendem como deveriam, não atendem mesmo.” desabafa um, dentre tantos severinos.
Não é fácil solucionar esse problemas porque a população de rua, por seu caráter intinerante, não é contabilizada no Censo. O que dificulta saber a exatidão matemática do problema. Nas inúmeras marquizes no silêncio da noite, a vida continua, maltratada por uma sociedade que ainda não aprendeu a enxergar seus severinos.
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